Quarta-feira, 15 de janeiro de 2025: após 1 ano, 3 meses e 8 dias, algo que parecia impossível ou cada vez mais distante aconteceu: o anúncio do cessar-fogo no conflito entre Israel e o Hamas, que entrou em vigor em 19 de janeiro de 2025. A notícia foi divulgada pelos mediadores do Catar, Egito e Estados Unidos, que trabalharam de forma incansável.
O ataque terrorista do Hamas, de 07 de outubro de 2023, matou 1.200 soldados e civis e resultou no sequestro de 250 reféns israelenses e estrangeiros. Em resposta, Israel contra-atacou, causando 46 mil mortes e forçando o deslocamento da maior parte da população de Gaza, de aproximadamente 2,3 milhões de habitantes.
Segundo o documento oficial, o acordo está dividido em três fases. A primeira, já em curso, é o cessar-fogo, que terá duração de 42 dias e incluirá a retirada das tropas israelenses de Gaza, além da libertação de reféns capturados pelo Hamas e de prisioneiros palestinos detidos por Israel.
A segunda fase, prevista para começar em 2 de fevereiro, abrangerá a libertação dos demais reféns, a implementação de um cessar-fogo permanente e a retirada completa das forças israelenses de Gaza.
Por fim, a terceira fase envolve o retorno dos corpos de soldados e civis mortos, a reconstrução de Gaza, o tratamento médico de feridos fora da zona de conflito e a entrada de ajuda humanitária.
Da análise dessas fases, pode-se constatar que a mediação é transformativa, não transformadora. Ou seja, ela se centra nas relações interpessoais e busca desenvolver o potencial de mudança nas pessoas, por meio da descoberta de suas habilidades e responsabilidades. O principal objetivo é promover uma transformação nas relações entre as “partes” envolvidas no conflito – algo que dificilmente seria alcançado por um tribunal neste caso desafiador. Essa força, essa capacidade, esse “poder” da mediação só pode ser plenamente compreendido quando se entende o que ela realmente significa.
A construção deste consenso, ou acordo, como queira chamar, foi celebrado em etapas, e novas mediações serão necessárias para viabilizar as próximas fases. O acordo provisório, especialmente em situações complexas como esta, é fundamental. Ele permite que os envolvidos analisem se as soluções inicialmente planejadas estão surtindo os efeitos desejados. Caso sejam necessários ajustes, eles podem ser feitos antes de avançar para as etapas seguintes. Afinal, imaginar como será um acordo é muito diferente de vivenciá-lo.
Nesse contexto, é importante destacar que, conforme divulgado pela imprensa, a principal dificuldade para a conclusão do acordo era a relutância do governo Biden em intervir diretamente junto ao primeiro-ministro de Israel para que ele aceitasse os termos propostos. Além disso, Israel resistia à retirada de suas tropas de Gaza.
Com a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, a situação tomou um novo rumo. Conhecido por seu sucesso como empresário e habilidade em negociações, Trump trouxe sua experiência, inclusive em 1987 publicou o livro A Arte da Negociação, para intermediar conversas com o primeiro-ministro de Israel, que finalmente aceitou dialogar. (A título de esclarecimento quero ressaltar que não estou adentrando na questão de ideologia política, apenas abordando os fatos conforme amplamente divulgados pela mídia).
Um outro ponto desafiador, foi a abordagem dos mediadores, que conseguiram “separar as pessoas do problema”, como ensina o mediador William Ury. Ao aplicar essa estratégia, as mediações e negociações evitaram que questões pessoais ganhassem protagonismo, permitindo foco na construção de soluções objetivas e eficientes. Esse método aumenta as chances de que os acordos tenham uma vida longa.
Essa abordagem também pode ser aplicada na sua vida, nos conflitos do cotidiano – seja na família, no condomínio, no trabalho ou na escola. Portanto, evite focar em questões pessoais, aprenda a gerenciar suas emoções, defina objetivos de forma clara e objetiva, e adote uma postura cooperativa e colaborativa. Assim, os envolvidos conseguem construir consensos satisfatórios para todos.
Outro ponto relevante foi a habilidade diplomática dos mediadores do Catar. O diálogo e a mediação são pilares fundamentais, tanto na governança quanto na sociedade catarense, conferindo relevância e destaque do país no cenário internacional. A permissão para que o Hamas mantivesse um escritório virtual em Doha, no Catar, facilitou a aproximação e demonstrou a intenção dos mediadores em ajudar a construir uma solução de forma imparcial. Além disso, foram discutidos temas cruciais, como a reconstrução de Gaza, ajuda humanitária, saúde e o resgate de reféns.
Muitos duvidaram da viabilidade da mediação, chegando a afirmar que o Catar atuava apenas como um “mensageiro”. Essa descrença reflete não apenas a complexidade, mas também os desafios de mediar um conflito que atravessa séculos.
Embora o acordo alcançado não represente a resolução definitiva do conflito, ele marca um pequeno, porém significativo, passo que merece ser celebrado. Afinal, esse avanço abre caminho para a implementação de novas etapas rumo a uma solução mais ampla.
É justamente nesse contexto que a mediação demonstra sua relevância, ajudando os envolvidos a se comprometerem com as soluções construídas em conjunto. Mais do que resolver disputas pontuais, a mediação promove a paz, tanto em âmbito local quanto regional e mundial.
Que este caso, complexo e desafiador, no qual foi possível dar um passo significativo em direção à solução de algo que parecia impossível, sirva de inspiração para você. Seja na família, no condomínio, no trabalho, na escola ou em qualquer outra situação, a mediação pode ser o caminho para resolver conflitos. Se eles conseguiram, por que você não conseguiria? Dê o primeiro passo e tente!
Como sempre gosto de mencionar: o diálogo constrói soluções!