A mediação, um meio eficaz e cada vez ganhando mais espaço na área da resolução de conflitos, desperta curiosidade e, por vezes, incertezas. Frequentemente, a primeira pergunta que advogados e clientes fazem é: ‘Qual o procedimento da mediação?’. A busca por um roteiro pré-definido, como uma receita de bolo ou um roteiro de série, revela a necessidade de clareza e segurança em um procedimento que, por sua própria natureza, valoriza a flexibilidade e a autonomia das partes.
A resposta reside na complexa natureza dos conflitos. Diante de tais situações, as pessoas anseiam por soluções rápidas e prontas, como as de uma receita de bolo. É importante reconhecer que a mediação, de fato, possui procedimentos específicos que garantem o bom andamento das sessões.
Para ilustrar essa questão, gosto de utilizar a analogia da mediação com um programa de notícias ao vivo. Imagine uma notícia urgente que chega à redação. O apresentador, munido de suas técnicas e conhecimento jornalístico, narra os acontecimentos em tempo real, interagindo com os repórteres. Da mesma forma, o mediador vai auxiliar que as “notícias” trazidas pelos mediandos e seus advogados sejam compreendidas.
Dessa forma, ao vivenciar um conflito, é natural compartilharmos nossas experiências com os outros. Cada indivíduo, porém, possui uma narrativa única, moldada por suas percepções, crenças, realidade e visão particular sobre o ocorrido. Detalhes relevantes para uns podem passar despercebidos por outros. Como diz o ditado: “existem três verdades: a minha, a sua e a verdadeira.”
Na mediação, é fundamental analisar o conflito sob a perspectiva de cada mediando antes de buscar soluções, o que para alguns seria o acordo. Na verdade, o objetivo final da mediação não é o acordo, mas a retomada do diálogo.
É compreensível o desejo por soluções rápidas em situações conflituosas. No entanto, as relações humanas são complexas e cada indivíduo interpreta os fatos de acordo com suas vivências e dores. Sentimentos e interações humanas são, por natureza, por vezes, desafiadores.
Nesse contexto, torna-se essencial a disposição para o diálogo, no momento oportuno, para que os conflitos sejam solucionados de forma satisfatória. Para que as escolhas sejam bem-sucedidas e seus resultados sejam cumpridos, os mediandos precisam compreender a situação, as consequências das decisões tomadas e quem está envolvido no conflito.
O sucesso da mediação não se resuma na obtenção de um acordo, mas sim na disposição dos mediandos em analisar seu próprio papel no conflito, flexibilizando seus pontos de vista e reconhecendo a existência de outras verdades e realidades. O diálogo maduro e construtivo é fundamental para o sucesso da mediação, que trará satisfação.
Deixemos as receitas de bolo para outras ocasiões. Na mediação, o foco reside na compreensão mútua, no diálogo construtivo e na busca por soluções que atendam às necessidades de todos os envolvidos. Essa é a chave para a solução pacífica dos conflitos, que pode ser acompanhada de um bolo!
@carloseduardochiapetta
